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terça-feira, 21 de abril de 2009

senhor da noite fria

Uma noite extremamente fria, um dia extremamente cansativo, daqueles de tirar o coro de qualquer pessoa. Sai do meu ultimo evento as 21h40mim tiritando de frio sem contar na fome. Me dirigi até a parada de ônibus, para esperar a incansável demora do meu meio de locomoção. Na minha época da escola eu até andava pela cidade (Alvorada) quando já havia escurecido, mas neste dia eu estava com medo. A parada onde eu estava era próximo à praça principal, onde tem uma escola estadual, onde consecutivamente não existem aulas e os alunos ficam por ali, causando medo em menininhas indefesas ,tipo eu, ainda mais se a parada estivesse vazia, como de fato estava. Mas eu estava ali dosando meu medo juntamente com o frio, quando senta do meu lado um senhor, logo eu penso ‘caiu a minha casa’, pensando que isso ele é quem falaria logo em seguida para mim mas, meu medo foi diminuindo e eu pensei que ele iria puxar algum assunto, desses típicos de paradas de ônibus e eu ia fazer com sempre faço, não ia dar bola, por que meu cansaço era imenso e com isso minha irritabilidade era maior ainda. Mas foi só eu pensar e pimba:
- Faz frio hoje né? Falou o velho senhor sorrindo para mim.
- Parece que sim. Eu olhei pra ele e simplesmente respondi, achando que ele iria notar minha falta de interessa na possível conversa, ou no possível monólogo.
- Tu vê estão fazendo 15 graus esta noite. Ele falou apontando para o moderno relógio eletrônico da cidade, na praça da cidade, e por fim me olhou e sorriu.
- É né, eu nem tinha notado. Seca novamente, mas com uma ponta de arrependimento.
- Mas o que uma jovem faz sozinha a esta hora da noite, ainda mais neste frio?
- Trabalhando, alguém precisa fazer este serviço não é? Respondi sorrindo desta vez.
Ai ele começou a falar, sem tirar o sorriso do rosto e eu comecei a prestar atenção naquele homem, que não me dissera seu nome e com toda a certeza eu iria par casa sem saber. Mesmo ele não sabendo o que eu cheguei a pensar no início da suposta conversa, corei de vergonha, como acontece sempre e me detive a todos os detalhes da história do senhor da noite de frio.
- Sabe eu tenho duas filhas e um filho, todos trabalham e também já tenho netos, a mais nova, só tu vendo mesmo, uma sapeca pra mais de metro, coisa mais linda.
Eu em contra a partida, só escutava e lhe retribuía com um sorriso, enquanto ele falava dos filhos e dos netos. Me contou também onde morou, pra onde se mudou, no que trabalhou, e como os tempos mudaram desde que ele veio morar na cidade e assim ele foi indo, até que em um momento ele parou me olhou e disse, como quem declama um poema dos mais lindos:
- E tem a minha mulher, linda até hoje, uma formosura, hoje se nota que o amor não dura, mas comigo é diferente, além de que nunca vi ninguém cozinhar melhor que ela, ah como eu amo minha mulherzinha. Terminou a frase em um suspiro e novamente com um sorriso. Quando terminou de falar se levantou me deu tchau, me desejou que eu ficasse com Deus e foi para onde era seu destino. No momento em que eu fiquei ali sem saber nem o que penar. Certamente eu me arrependeria muito de não ter dado atenção para aquele senhor que em menos de dez minutos me contou a sua vida com tanta veracidade e empolgação, e sempre com aquele sorriso no rosto, ele se permitiu abrir seu coração para uma estranha no momento em que eu me permiti saber da sua história.
Amor todos tem, muitos escondidos, mas todos têm. Eu tenho um amor e faço fotos para que dure, mas não quero que meu marido quando eu tiver a idade do senhor da noite fria fale de mim, como a mulher que cozinha bem ou a mulher que ama, eu quero falar do amor que eu tenho e tive durante uma vida, de alguém que cultivou comigo tudo o que somente duas pessoas podem cultivar juntas. Vou me permitir contar, assim como alguém vai se permitir saber, da mulher da noite fria e seu amor de uma vida. Por que um dia, eu sei, isso vai acontecer, por que eu tenho um amor, e vou ter para sempre!